sábado, 3 de março de 2012

O amor em suas várias facetas (coisas que só podem ser ditas em versos...)





Presença e ausência

Está na minha vida,
No meu quarto, na cozinha,
Na sala, no banheiro.
Está em todo lugar onde eu estou.
Em meus sonhos,
Desejos e afins....
Sua presença é minha esperança,
E sua ausência é uma saudade que não tem fim.
Mas é sempre assim,
Ele lá e eu cá
Esperando para ver o sol brilhar
No dia em que ele aprender a me amar.

Platônica
Eu te amo.
Sem poder
Sem pensar
Sem querer.
Eu te amo.
Mesmo sem saber,
Sem dizer.
Sem te ver
Eu te amo.
Com a dura certeza do viver
Sem ao seu lado amanhecer.
Mesmo assim, eu te amo.
É fácil entender.
Difícil é descobrir 
Porque a dor e o amor
Têm a mesma cor?


Desnuda

O mesmo olhar de menino,
O mesmo gesto.
Um beijo no dorso da mão.

O mesmo arrepio,
Guardo teu beijo.
Vacilo.

Tento disfarçar.
Esquivo-me
Mas não consigo.

Cai a máscara
Que bem nunca me caiu.
Embora eu me esforçasse
Para encaixá-la.
Esfacela-se
Bem diante dos seus olhos.

E agora sou só eu,
Frágil,
Diante dessas pupilas
Que me perseguem
Capturam,
Mastigam, engolem,
Com o mesmo apetite
De um tigre
Com sua presa.

Porque o tempo passa,
Tudo muda,
Menos esse olhar,
Que ainda me desnuda.

02/04/2010

Ciência exata do amor

Chega mais...
Se enrosca em minhas madeixas
Aqueça meu corpo
Esqueça minhas queixas.

Enfie-se em minha blusa
Sente meu perfume.
Pare com essa cena de ciúme.


Siga-me como eu te sigo
Dê-me um abrigo,
Proteja-me do perigo

Beija minha boca,
Extraindo a doçura
De fruta madura,


E nessa nossa mistura de peles, cheiros e gostos.
Desvenda-se a fórmula mais que secreta
Eu + Você = química completa
5/3/2005



Ordem dos apaixonados
 Agora somos só corpos
Embalados,
O sangue fervendo,
Queimando nas veias,
Palavras soltas
Aos  ouvidos.
Gemidos roucos,
Rompem as paredes.
E a garganta seca,
Na sede do amor e do desejo.
E nada mais.
Senão teu corpo
À espera dos meus beijos
Com a fúria e a pressa dos desesperados.
Assim seguimos, nessa ordem.
A imensa desordem
Dos apaixonados.






Domingo, 20 de abril de 2008, 18:59h.

Incógnita


Luz acesa,
Tela em branco,
Página vazia.
MPB tocando...
Meu coração gritando.
As palavras? Resistindo...
Eu, insistindo...

Briga inútil.
Palavras já começam a ceder...
Saindo desordenadas para o papel,
Assim como a minha mente, mentindo para si mesma.
(Se mentir para si mesma é uma arte perversa, às vezes ser sincera também é).
Mas na mentira ou na verdade, nada muda
É tudo sempre a mesma coisa.

As idéias se espalham...
Se misturam. 
Eu já não leio.
Canções de amor não mais me consolam.
A porta range.
Não é ninguém.
É só a vida, me incomodando.
É a incógnita de uma equação complexa.
Para a qual ainda não há resultado lógico,
Nem resposta coerente.
Por onde anda esta felicidade tão ausente?


 





O Rompimento

Atirei pela janela suas roupas,
Junto aos sonhos,
Esperanças...
Queimei fotos,
Rasguei cartas,
O  travesseiro fiz em mil pedaços
No apartamento já não há mais rastros.

Só não consegui livrar meus lábios
Da falta dos teus beijos,
Meus braços
Da falta dos seus abraços,
Minha pele do seu cheiro,
Meus ouvidos da sua voz.

Vagando nos meus sonhos
Ele segue.
Em todos os lugares
Sua sombra me persegue.

Como um vício,
À beira de um precipício,
Sei que continuarei
Carregando esse suplício.

A marca da traição
A ferro e fogo
No corpo, na alma
E no coração.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Remexendo as gavetas e os arquivos...



... Encontrei esses dois textos que escrevi faz tempo, sobre São Paulo. Um pouco tardia essa minha homenagem, mas acho que está valendo ainda.

Arborescendo
           
Ei, jovem, o que faz aí, sentado neste banco? Aprecia a paisagem? Eu também. Você não sabe, mas eu vejo, ouço e sinto tudo o que se passa a meu redor. Se pudesse falar, traria problemas para muita gente. Não que eu quisesse ser fofoqueira, mas algumas coisas teriam de ser  reveladas, afinal são quatrocentos e cinqüenta anos de história! Me diga com franqueza, meu rapaz, você seria capaz de guardar tantos segredos? Ora, que pergunta! Para que serve aos humanos o dom da fala, senão para contar seus “causos” a todo mundo?
              Estou aqui desde o inicio de tudo.  Era só uma sementinha quando fui plantada em 1554, por algum jovem jesuíta que quis embelezar o ambiente e cultivar a natureza, na época em que esta cidade ainda era uma vila. Aí o tempo foi passando, eu fui crescendo, o lugar foi se ampliando, a população também; fez-se então o progresso. E veja só que crueldade: fui perdendo minhas irmãzinhas, que como eu, eram verdes, frondosas e só faziam purificar o ar. Para cada fábrica construída, foi necessário destruir várias de nós de uma só vez. A ganância dos homens é sempre maior do que o desejo de preservar a natureza.
            Felizmente, hoje eu e minhas companheiras temos um lar, o parque mais famoso da cidade. Aqui no Ibirapuera, as pessoas se divertem, cuidam da saúde, respiram ar puro e arte. Está vendo aquela grande concha branca ali? É a Oca, cartão postal que nos foi dado pelo mestre Oscar Niemeyer. Lá dentro, já foram expostas obras de artistas do mundo inteiro! E por falar em artista, toda semana tem um naquele palco. Só músicos de primeira linha se apresentam ali. Eu, que tenho os pés fincados no chão, com o perdão da expressão, não posso dançar, mas com a boa melodia, meu amigo vento se alegra e vem chacoalhar um pouquinho os meus galhos...
            ...Ah, sabia que eu também sirvo de cupido? Olhe meu tronco bem de perto e você verá vários corações com flechinhas desenhados. Confesso que no começo não gostava muito porque o canivete machuca...e os humanos quase sempre se esquecem que nós também somos seres vivos e podemos sentir dor... depois fui me acostumando, ainda mais agora, com essa moda da tatuagem. Aquele casal que caminha de mãos dadas, por exemplo, deu seu primeiro beijo aqui, debaixo da minha copa, e logo, logo subirá ao altar. Tem um outro que se encontrou exatamente aí, onde você está sentado, e nunca mais se separou; e olha que isso foi há uns sessenta anos! É uma pena que os casais desta geração não resistam ao tempo tanto quanto os velhos e as árvores.          
            Está gostando do que vê, amigo? Pois eu lamento informar que nem tudo aqui são jardins e flores. Por vezes, os maus ventos sopram,  trazendo gente ruim. Nem queira saber quantas pessoas eu já vi sendo maltratadas por esta mata adentro. Nessas horas, eu realmente gostaria de poder ajudar a quem tanto precisa, mas o que fazer se meu pai, que mora lá em cima, não me deu voz para ser ouvida?
            Em compensação,  nunca precisarei me preocupar com o aumento de impostos e com o trânsito maluco, nem com as ruas esburacadas e  a fila de desempregados; essas coisas que comentam por aqui.  Sinto muito te dizer isso mas... um dia você saberá do que estou falando... da vida do paulistano. Olha o que acontece: só de pensar nisso, derrubo toda a minha folhagem!
            Viu como há diversas vantagens em ser árvore? Tenho a felicidade de poder contemplar este cenário todos os dias, e de, aos quatrocentos e cinqüenta anos de idade, continuar sendo tão bela quanto era aos quinze. Ainda sou bela, não sou?
            Ei, cadê você ? Ah, já se foi! Mas não importa; muitos outros virão, como vieram ontem, hoje e sempre... por mais quatrocentos e cinqüenta anos.  


Imagens Paulistanas

Nos de folga, são raros os habitantes de São Paulo que optam por fazer um passeio pela cidade e registrar o que nela há de mais atraente. Arriscaria até dizer que poucos paulistanos conhecem bem o lugar onde vivem, o que é uma pena. Mas eu, como cidadã nata e orgulhosa, faço essa opção sempre que posso. Cada dia visito um lugar diferente e vou reconstruindo em minha mente a São Paulo moderna. O dia ensolarado é propício, não porque não goste das nuvens acinzentadas que lhe renderam o apelido de “terra da garoa”, mas porque a luz do sol oferecerá melhores condições para registrar as imagens paulistanas.
            Hoje é dia de visitar a Praça da Sé. Avisto a catedral imponente e solitária, ainda que rodeada por milhares de pessoas. Acompanho os passos apressados dos transeuntes, observando desde o gari, que faz seu trabalho de cabeça baixa, até o executivo que caminha apressado recolhendo sua pasta junto ao corpo, com medo de ser assaltado. Motivos para isso não faltam, há pedintes por todos os lados. Mas aqui, as pessoas já se acostumaram a ter medo.
            A meu lado, um vendedor ambulante grita para atrair freguesia. Eles vendem de tudo: chocolate, cachorro quente, panelas, chaveiros, bijouterias, roupas, rádios de pilha... algumas pessoas se aproximam, olham atentas mas não compram nada; outras animam-se e começam a negociar um produto. Há também os artistas de rua, que cantam, tocam instrumentos, viram cambalhotas, contam piadas. Vale tudo para ganhar a vida.
            Começo a recortar o cenário através da lente da câmera: primeiro os protagonistas da história, o povo, com sua expressão sofrida e sorridente; depois os elementos inanimados da cena: a  clássica catedral, as árvores, o banco da praça, o jardim. E como o tempo passa! Quando vejo já é hora de seguir para a próxima parada: A Avenida Paulista. Vale a pena conhecer cada detalhe do local que é muito mais do que o centro financeiro da terceira maior cidade do planeta. Um lugar que, contrastando com a seriedade dos edifícios comerciais, concentra arte e lazer. Tal diversidade lhe confere o título de ponto mais charmoso de São Paulo. Em frente ao prédio do Masp, mais uma vez, recorto o cenário. Depois o Mam, as galerias, o Parque Trianon e sua paisagem natural, imagens que merecem ser registradas. Os camelôs e mendigos continuam ali, já não sei bem se como protagonistas ou coadjuvantes, representando a face mais triste daquele lugar.
Na Avenida Paulista, as desigualdades saltam aos olhos mais desatentos. Porém, até os mais atentos ficam surpresos ao cair da tarde, enquanto, pouco a pouco, a escuridão toma conta do céu, brigando com as luzes fluorescentes e os letreiros em neon que se destacam noite adentro. Era o sinal que faltava para anunciar a festa .
             É quando os povo começa a  se agitar ao som do rock e do pop das casas noturnas; a tarantela chega aos ouvidos dos freqüentadores das cantinas italianas com aquele sotaque que é nossa marca registrada. E como não falar do samba, que há alguns anos era o campeão entre os ritmos que embalavam os boêmios nos bares da cidade. São Paulo abriga todos os gostos e estilos. Por aqui, os anos passam, mas as tradições persistem.
            São Paulo é tudo isso. É o antigo e a vanguarda, o suor do trabalho de dia e a exaltação dos sentidos à noite, é a consolação e o paraíso; é choro e é riso; é também futebol, é paixão nacional. Assim é composto meu retrato, com a força destas contradições que  inspiram o povo e a arte  mundo afora. Por isso me orgulho de ser parte da energia que faz pulsar o coração do Brasil.   
 
  



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Bye, Bye, 2011 !

Tenho visto no Facebook e fora dele muita gente se despedindo de 2011 com alívio e até com certo rancor. Pelo visto esse ano foi difícil pra muita gente, não só pra mim. Eu chorei, duvidei,  fracassei, sofri. Só não digo que tenha sido um péssimo ano porque tive muitos aprendizados. Um para cada mês do ano:

  • Aprendi a não esperar uma chance -  as oportunidades não vêm até você, é preciso que você vá até elas -  ou as crie! 
  • Aprendi que quando algo não dá certo, sempre é tempo de recomeçar.
  • Que um pássaro na mão vale mais do que mil voando.
  • Que a solidão é uma péssima companhia (óbvio).
  • Que ter um amigo verdadeiro por perto é mais importante do que ter 300 nas redes sociais – os quais você  nunca vê.
  • Que aprender é a melhor saída quando se está num beco sem saída.
  • Que a paciência é uma virtude das mais preciosas e que aceitar a vida como ela é talvez seja o melhor atalho para a felicidade.
  • Que fazer muitos planos pode ser uma forma de esconder o medo, resultando em inércia e fracasso.(em alguns casos, seguir a intuição dá mais certo!)
  • Que dinheiro não é tudo, mas  faz uma falta danada.
  • Aprendi que o pior sempre antecede o melhor. Se não fosse assim, não haveria o prazer da conquista, não é mesmo?
  • Que o dia certo para realizar seus sonhos é hoje, não amanhã.
  • Mas que amanhã sempre pode ser melhor.

Então, que venha 2012 com dias melhores para todo mundo e que possam durar para sempre.
Beijos a todos.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Lançamento da coletânea Crônico! - Crônicas Brasileiras Ilustradas


É com muita alegria que compartilho com vocês o lançamento da coletânea Crônico! - Crônicas Brasileiras Ilustradas, da editora Multifoco. Participo dessa obra com o texto "Recomendações de uma Amiga". Foram selecionados 18 novos novos autores de diversos estados: RS, PR, RJ, MG, BA, PE e SP.  É uma honra estar entre eles, publicando uma crônica pela primeira vez. O lançamento será dia 12/11, no RJ. Estão todos convidados!
Por enquanto, segue o release, apenas para vocês terem um gostinho !
Quem quiser adquirir o livro, fale comigo: mailto:fakadri@hotmail.com  Vale a pena! 

Editora Multifoco lança coletânea de crônicas ilustradas



Com lançamento previsto para o dia 12 de novembro, a coletânea Crônico! (R$28, Ed. Multifoco, 100 páginas.), organizada pelos escritores Jana Lauxen e Beto Canales em parceria com a Editora Multifoco, reúne a nova safra de cronistas e ilustradores brasileiros.
São, ao total, 18 crônicas e 18 ilustrações, que reúnem o melhor de todo o material recebido durante a seletiva, que buscou, pelos quatro cantos deste Brasil, cronistas e ilustradores dispostos a colocar seus textos e ilustrações na avenida:
- Existem excelentes escritores e ilustradores em nosso país; infelizmente (e injustamente) em sua maioria ainda desconhecidos. Um dos principais objetivos da Editora Multifoco é encontrá-los e publicá-los. Uma forma de colocar leitores em contato com autores que, através dos meios de comunicação convencionais, nunca teriam a oportunidade de conhecer. – diz Jana Lauxen, uma das organizadoras da coletânea.
A obra conta com autores do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco  e Bahia, o que, segundo a organizadora da coletânea, só vem a somar no resultado final da obra, que considera pra lá de satisfatório.
- O Brasil é um país imenso, cheio de culturas diferentes e, naturalmente, de realidades e pontos de vista também diferentes. Reunir autores de diversos lugares do Brasil, cada qual com sua visão sobre situações completamente distintas entre si, trazem ao leitor um panorama atualizado da realidade brasileira. Além do que, é muito interessante descobrir o que pensam estes novos escritores que, de uma maneira ou de outra, também estão escrevendo hoje o futuro da literatura no Brasil.
Os textos que compõem a obra discorrem sobre os mais variados assuntos, indo desde literatura, Deus, galinhas, maconha e futebol, até festas, esperas, pêssego, vida e morte – todos retratados também por meio dos quatro ilustradores, que deram traço e forma aos textos que receberam.
O resultado desta miscelânea de autores, ilustrações, textos e temas poderá ser conferido a partir do dia 12 de novembro, data do lançamento da obra, que acontecerá no Rio de Janeiro, no Espaço Multifoco (Av. Mem de Sá, 126 - Lapa), entre 18h e 21h.
Um livro que, sem dúvidas, sua estante merece guardar.


domingo, 9 de outubro de 2011

Desconstruindo a relação (um poema-diálogo ou vice versa)

 
 
Eu te amo
Nossa, há quanto tempo...
É. Já tinha esquecido.
Pois é, percebi.
E você?
Eu o quê?
Nada, não.
Esfriou.
Tá chovendo lá fora.
Que bom.
Bom que o ar fica mais respirável.
Mas parece que vem tempestade.
Que nada, olha lá o arco-íris...
Cadê?
Longe. Tem que chegar bem perto pra ver.
Essa minha miopia tá me deixando cego.
É. Tem que ver.
Ver o quê?
O médico.
Ah, sim... o médico.
E você?
Eu o quê?
Tá bem?
Tô. E você?
Também. Quer dizer,o médico disse...
...Que bom.
Tô com sono.
Não tá esquecendo de nada?
Ah, sei. Tá aqui o dinheiro.
Tá.
Não vou poder ficar para jantar.
Como assim? Você prometeu.
Esqueci.
Pois é, percebi.
Negócios. Marcaram em cima da hora.
Tá. Já esqueci .
Esqueceu o que?
O que você não lembrou.
Minha memória anda péssima.
Tem que ver.
Nem o médico resolve.
Quem falou em médico?
Tenho que ir.
Vai.
Volto logo.
Volta, não.
Como?
Nada, não.
Fica com deus
Prefiro o diabo.
Te trago um sorvete?
Dieta!
Ah, sempre ela. Vai ficar doente assim.
Quem sabe assim você se cure.
Curar de que?
Da cegueira, do esquecimento.
Meu suéter. Quase esqueci.
Não, disso você não esquece. Vê se não esquece as malas.
Que malas? Não vou viajar.
Vai sim, amor. Você esqueceu.
Que bom que eu tenho você pra me lembrar.
É, se não sou eu...
Mas...pra onde é que eu vou mesmo ?
Pra um lugar onde você não vai ter nada para lembrar. Não é um paraíso?
É... parece bom...
E você?
Eu o quê?
Não vem comigo?
Se você não vai ter mais nada pra lembrar, não vai precisar mais de mim.
É, tem lógica.
Você tinha razão.
Sobre o quê?
O ar agora vai ficar bem mais respirável.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A vida lá fora não é um ringue

Todo mundo vidrado nesse negócio de UFC. Eu sempre ouvia falar, mas nunca tinha visto . Sabia apenas que era uma luta tipo vale-tudo, no esquema de sempre: 2 homens se engalfinhando até que vença o mais forte. Um dia, zapeando a TV, parei nela. Lutavam Anderson Silva e um japonês franzino. Era praticamente luta ganha. E claro que o grandalhão da voz fina ganhou (voz que só fui ouvir no dia seguinte, no Faustão, onde a “estrela" do UFC foi julgar  - vejam  só! -  o quadro Dança dos Famosos).
Tudo bem. Não sou fã de esportes de luta. Sempre pensei em como alguém, por mais atleta que seja, pode gostar de apanhar ou bater. E como isso pode ser considerado esporte? O fato de o UFC resgatar os antigos vale-tudo e de ver toda essa vibração, a comoção popular  em torno de alguém apanhando, sendo derrubado, com sangue escorrendo do nariz e do supercílio  me dá um bocado de aflição e até medo. Pode ser  por ignorância minha, afinal, trata-se de uma competição esportiva cujo objetivo não é incitar a violência, dirão os seguidores fanáticos.  Mas é impossível não pensar nessa questão: o quanto esse vale-tudo influencia ou pode influenciar nas manifestações violentas que vemos aos montes fora dos ringues? A atração por esse esporte seria uma demonstração de que as pessoas estão cada vez  mais íntimas da violência?
O japonês magrelo já estava caído no chão, com a cara completamente ensanguentada e o  Anderson Silva só parou de dar porrada quando o juiz apitou. E se o cara tivesse desmaiado? Como é que o juiz sabe a hora exata de parar? E se o adversário, já dominado e moribundo, não tem condições de sinalizar? Bem, não sou uma expert no assunto. E não tenho imparcialidade alguma ao falar dele porque sou muito sensível a tudo que envolve agressividade e sangue (não poderia ser médica de jeito nenhum!) Mas merece uma reflexão, não só a respeito do UFC, mas sobre outros esportes que fazem uso de violência e até maus-tratos, como é o caso do rodeio. No UFC, os lutadores ainda podem se defender, enquanto que no rodeio, os pobrezinhos dos bois são tão bravos quanto indefesos. Se pudessem escolher entre participar ou não, acredito que fariam a segunda opção.
Parece que os humanos, esses sim,  cada vez mais celebram a violência. Estamos vivendo numa grande arena, e salve-se quem puder. Isso me lembra de uma das canções mais perfeitas que já ouvi na vida, que, não por acaso, chama-se Perfeição, e é do grande Renato Russo.  A letra é bem objetiva: Vamos celebrar a estupidez humana/ a estupidez de todas as nações/ o meu país e sua corja de assassinos/ covardes/estupradores e ladrões... e por aí ele segue, dizendo um monte de outras verdades que não eram ditas, com a veia irônica que sempre foi sua. Renato ficou famoso por isso. Dá para perceber que, infelizmente, a sociedade não mudou muito desde a época em que a música foi lançada (18 anos atrás!).  Enfim, é só uma opinião. 



Perfeição :
Música  de Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá
Letra: Renato Russo
Álbum: O descobrimento do Brasil (1993).