sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desabafo de uma PDD - Pessoa desempregada (quase) desesperada

Há quatro meses (Já)? Entre dias que passam rápido e outros que se arrastam como os 10 minutos de trailer no cinema, vida de desempregado é como computador em modo de espera. Diminui o consumo de energia, mas está sempre ligado. Ou como esperar um sinal do cara depois do 1º encontro.  Não dá para sair do lado do celular e desconectar da net.  Ele pode aparecer e, se você não estiver por perto, dá merda.
Não digo que essas férias forçadas estejam sendo ruins. Meus cabelos brancos até diminuíram (dos 10 que surgiam toda semana, impetuosos e insolentes, agora aparecem 3 ou 4, no máximo). Dizem até que emagreci. Não desperdiçar pelo menos  ¼ das 24 horas do meu dia dentro de um ônibus parado no trânsito também é um alívio. Escrever quando quero, como estou fazendo agora. Ser dona do meu tempo, isso é liberdade. Mas infelizmente nada disso pode me livrar do pesadelo que é ver minha conta bancária pedindo socorro e não ter por onde socorrê-la; perceber que o ano acabou e nada de 13º...
 O desempregado fica sempre em stand-by, nunca sabe quando vai poder dar o próximo passo. E o pior é que são tantos os passos a dar: comprar aquele apê que tanto sonhou, mas achava que ainda não era a hora, fazer aquela viagem ma-ra-vi-lho-sa, pintar a casa, cujas  paredes estão implorando por tinta nova há séculos etc etc.
Perdi a conta de quantas entrevistas já fiz – será que devo  me orgulhar ou me envergonhar disso? - enfim, ainda não rolou a “ química”. Quando perdi o emprego, dizia-se que o mercado estava aquecido, principalmente para pessoas como eu. De fato, estava, e acho que ainda está. As empresas estão contratando PCD´s , PDF´s, PPD´s, PNE´s (ou seja lá qual outra sigla queiram inventar) a rodo.
Ok, isso é ótimo. Embora não devesse, a lei de cotas para deficientes é necessária.  Mas aí o telefone toca e do outro lado da linha o recrutador diz assim:
SITUAÇÃO A:
R:  Estamos realizando um processo seletivo para pessoas com deficiência, você teria interesse?
EU: Sim, tenho. Mas quais são as vagas disponíveis?
R: Ah, ainda não sabemos. Vamos primeiro selecionar os candidatos.
EU : ...
Espera aí: quando a gente vai pra uma entrevista de emprego, costuma querer saber qual é o cargo ao qual está se candidatando, pelo menos é o mínimo que se espera, certo? Errado, a PCD nem sempre sabe.
SITUAÇÃO B:
R: Peguei seu currículo no site tal.  Você teria interesse em participar do nosso processo seletivo?
EU: Claro. Mas quais são as vagas disponíveis?
R: São vagas na área administrativa.
EU : Mas eu sou formada em comunicação social. Tenho uma experiência de 4 anos na área, contando com o tempo de estágio, 5 e meio. Conforme consta no currículo...
R: Ah sim, claro.  E qual a sua pretensão salarial?
EU : (a pretensão salarial não pode ser mais de R$ 1000). Mas a minha, é.
Do outro lado da linha, silêncio. Depois de alguns segundos, a resposta:
R: Eu vou verificar com meu superior se nós temos vagas na sua área e também na sua pretensão salarial e te dou um retorno ok?
Fim de papo. É claro que ela não retornou a ligação. Porque como é que eles vão suprir a lei de cotas se tiverem que pagar um salário mais alto? Como eles vão contratar PCD´s se não for para um cargo de auxiliar/operacional?  E quem tem graduação, experiência, não pode almejar algo mais no mercado de trabalho  - nada além do direito de trabalhar  na área profissional que escolheu? Não. A maioria das empresas (tomando o cuidado para não generalizar) acham que eles vão aceitar qualquer cargo e salário. Mesmo que seja um profissional qualificado e com curso superior.
Mas afinal, porque é tão difícil para as empresas realizarem um programa de inclusão que considere não só as necessidades delas, mas também as do candidato, como plano de carreira e acessibilidade, por exemplo? Outro dia, numa entrevista, o selecionador me disse que não teria me chamado se eu fosse cadeirante, pois a empresa não tinha espaços adaptados para eles. Nem mesmo um banheiro!  Quer dizer, se um cliente dessa empresa  usar cadeira de rodas certamente ela o perderá já na porta de entrada. Disponibilizar vagas para deficientes: é só isso que entendem por inclusão?
Inclusão responsável, não apenas para atingir cotas, é não direcionar vagas para portadores de deficiências, simplesmente procurar por aqueles que tenham o perfil das vagas já existentes; é oferecer as mesmas oportunidades de carreira (com o mesmo nível de exigência , claro);  é ter espaços adaptados a eles (toda PCD precisa de adaptações nos espaços, não apenas o cadeirante. No meu caso, por exemplo, é muito importante ter corrimões nas escadas);  e o que eu considero mais importante: valorizar o talento de cada um em suas respectivas áreas.
Parafraseando a velha e boa música dos Titãs: A PCD não quer só comida, a PCD quer comida, diversão e arte... de preferência conquistados com um trabalho do qual possam se orgulhar. Porque o que nós todos queremos é unir o útil ao agradável. Encontrar o equilíbrio que só se tem quando se faz o que gosta. Será que é pedir muito, senhores RH´s?



domingo, 7 de novembro de 2010

Náuseas nazistas

Toda vez que vejo filmes com referências ao nazismo sinto náuseas. Vontade de vomitar. A palavra imediatamente remete a isso. Age feito um soco no estômago. A cabeça gira. Curioso é o fato de que a ficção sempre dá um jeitinho de revisitar esse capítulo triste da nossa história, uma parte que ninguém gostaria de ter para contar.
E se fôssemos  vivos naquele tempo? Alemães ou judeus? Teriamos sangue frio para aceitar a morte de milhares de pessoas – seres humanos, embora não fossem reconhecidos como tais- pelo simples fato de eles serem de origens diferentes de nós? Ou para, na segunda hipótese, esperar pacientemente nos campos de concentração, trabalhando como escravos, sofrendo as mais absurdas torturas e rezando para que morte prematura, porém inevitável, chegasse mais depressa?
O Führer deixou para as gerações que sucederam o legado da intolerância, da crueldade e da miséria humanas. Nos ensinou que, quanto mais limitada a mente de alguém, maior deve  ser o estrago causado ao seu redor.  O que dói é pensar que as vítimas tinham como único objetivo  sobreviver; isso era tudo com que podiam sonhar. E quantos Führers ainda existem por aí afora? Há resquícios dos ideais nazistas por toda parte: na ditadora que ocorreu anos depois, nas favelas, no tráfico, no crime organizado, na política, na desigualdade e no preconceito contra as diferenças.  É incrível como, passados mais de 70 anos, isso ainda condiz com a nossa realidade.
Se eu fosse alemã, seria inconformada. Se fosse judia, seria resiliente, mesmo diante da minha impotência.  Cuspiria na cara dos generais. Aliás, já matei os homens do Reich diversas vezes; não só matei como torturei, dei pontapés nas costelas, afoguei, quebrei osso por osso (minha mente é predadora de assassinos). Na oportunidade de encarar o demônio em pessoa, tocaria fogo nele, mesmo sabendo que meu destino seria também virar churrasquinho ou comida para os porcos. Pouco importa,  o sacrifício teria valido a pena.
Hitler precisou de muita gente para matar, mas não para morrer. Embora não tenham faltado inimigos que tentassem mandá-lo para o inferno,  acabou vítima de sua própria armadilha, suicidando-se com um tiro. E esse foi seu único gesto benevolente, que realmente demonstrou seu amor à pátria. O corpo, não por acaso, virou churrasquinho daqueles bem indigestos. Infelizmente, o mal-estar causado por ele não passará nunca.
Obs: Alguns filmes que ilustram esse texto:  A lista de Schindler, O Menino do Pijama Listrado, Operação Valquíria, Bastardos Inglórios e Um Homem Bom (trailer abaixo).