quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Pais de 70

Eu tenho um pai de 70 que tem cara de 40. E posso dizer, com conhecimento de causa, que os pais de 70 são muito melhores que os de 40.
 Os pais de 70 não se enfurecem mais, no máximo ficam emburrados . Os pais de 70 querem fazer o que não tinham tempo aos 40: jogar buraco e almoçar com você só para roubar batata-frita do seu prato. E adoram competir com as formigas para ver quem devora mais rápido uma barra de chocolate – só porque o “mala” do médico o proibiu de comer doces afirmando que açúcar é veneno. Pelo visto, ele e mais 99,9% da população mundial vão preferir morrer envenenados.
Os setentões dizem que te amam sem um pingo de vergonha, mesmo que você, aos 20 e poucos, a tenha. Na verdade eles não estão nem aí para isso, só  têm pressa de dizer e repetir, porque sabem que nessa idade a gente já não pode mais se dar ao luxo de ter desses pudores tacanhos da juventude, que, vamos combinar, são bem esquisitos. Pode haver coisa melhor para se dizer a alguém?
Eles não se importam que a gente chegue tarde em casa, desde que tenham a ficha completa do indivíduo. Apesar de se preocuparem muito com essa sua mania de ser seletiva demais (ou de menos), eles sabem , pela própria idade, que provavelmente você já seja grandinha o bastante para escolher um.
Os que não são avôs estão convencidos de que, se depender de você, não será nessa encarnação que eles levarão os netinhos para brincar na praça, do mesmo jeito que faziam contigo até completar 12 anos. Mas como a esperança é a última que morre, deixam claro que morreriam mais felizes se tivessem um menino daqueles bem capetinhas para ensinar a trapacear no baralho e no dominó ainda nessa vida mesmo, -  agora, o futebol terá de ficar para o pai, já que suas pernas estão mais pra lá do que prá cá.  E finalmente sentenciam: “Não, minha filha, não é que eu queira pressioná-la. É apenas para lembrar que você já não  é mais uma adolescente e que está na hora de correr para dar conta do recado... talvez daqui há 10 anos já seja tarde demais para ambos”. Nem precisa falar, pai. É como ter um post-it amarelo permanentemente grudado no cérebro.
Mas o que os pais de 70 querem mesmo é colo, com todo o direito que lhes cabe, afinal quantas vezes o colo dele já te amparou, fazendo cafuné até dormir? Agora é a sua vez de retribuir, fazendo a sobremesa que ele mais gosta (só de vez em quando) e lembrando a hora certa de tomar o remédio, ainda que a sua memória seja pior do  que a dele.  É ao seu lado que o menino-grande deixará rolar todas as lágrimas que ele não chorou durante todos estes anos quando você estava por perto, só para não demonstrar fraqueza, para dar exemplo... mal sabe ele que  exemplo é o que eu tenho agora: de pai, de amigo, de contador de histórias, de homem batalhador, de vida. Outro dia até me perguntou o que ia ganhar de dia das crianças...Espertinho, não? É, esses pais de 40 realmente têm muito a aprender.

Olha só o meu pai aí . Tem ou não tem cara de 40? Tá bom, 50, no máximo !

domingo, 19 de setembro de 2010

Meu primeiro poema

Pois é, sei que é batido mas a primeira vez a gente nunca esquece mesmo! Aproveitando que já  estamos na semana  da chegada da primavera, tenho que dizer que tudo começou por acaso, numa primavera. Eu escrevi a pedido da diretora da escola, que enviaria os melhores trabalhos para participarem de  um concurso de poesias, promovido entre alunos de escolas vizinhas por uma livraria local. O meu foi um dos escolhidos. Mas, quem diria, minha surpresa seria ainda maior - acabei tirando o terceiro lugar na categoria infanto-juvenil e tive meu primeiro poema publicado na coletânea do concurso. Eu tinha só 10 anos, então aquilo pra mim foi o máximo! E desde então, não parei mais. Ah, só pra constar, hoje tenho 26 e não é por acaso que o nome do poema é...

Primavera

Na primavera as flores brotam
E as folhas das árvores crescem
Os passarinhos que cantam
E os pintinhos que nascem.

A primavera é tempo de emoção,
A primavera é tempo de alegria,
E o meu coração
Se enche de magia.

A primavera é uma estação bela
Os animais brincam com ela
Fazendo-a muito mais bela
Por isso é que eu amo a primavera.


Publicado na Antologia Poética da Livraria Angeli - Prêmio Angeli de Poesia - 1994.

sábado, 18 de setembro de 2010

Tentando definir o indefinível

Inspirações e suspiros: 2 coisas que não se pode definir. Completamente surreais. Mas se pudesse chegar perto de uma definição, diria que a inspiração está para o suspiro como o beijo está para a paixão: um é ação e o outro é  reação, pode ser de alegria, de admiração, de medo... sonora ou muda. É o que geralmente provoca um arrepio e nos tira o ar por alguns segundos, para que possa continuar sempre e com mais força, num ciclo sem fim. Surge de repente, transportando você para outro mundo e, quando isso acontece, é preciso deixar-se levar, entrar em sintonia para reverenciá-la - exatamente como fazemos com uma grande paixão - e assim, simplesmente viver aquele momento único. Vale qualquer coisa: um verso, um desenho, uma fotografia, um prato especial, um roteiro de viagem, um projeto de vida etc.
Nada se pode criar sem um suspiro, e é  impossível eternizá-lo sem a inspiração. Acho que é isso.
Então, dedico esse espaço aos meus breves momentos de inspiração e muitos suspiros.
Sejam bem vindos!