sexta-feira, 10 de junho de 2011

Insônia e dia dos namorados

No dia dos namorados, resolvi postar um texto que não escrevi por causa do dia dos namorados, mas tem tudo a ver. É bom ter essa insônia, especialmente se você tiver um(a) namorad(a)......mas, se não tiver, também vale. O que não vale é quando esse alguém é igual a ninguém,  quando está com você sem estar. Como diz o velho ditado, antes só do que mal acompanhada. Para viver o amor, temos que  perceber que a felicidade, a tal da plenitude tão esperada, tem que estar primeiro em nós mesmos. Assim fica bem mais fácil receber o amor do outro, não é mesmo? Leiam o texto e me digam.

Insônia

Chegou em casa de madrugada, louco  por umas boas horas de sono. Como de costume, atravessava o extenso corredor que levava ao quarto, quando algo além de seus passos quebrou o silêncio. Apurou os ouvidos. Pareciam gemidos roucos, sussurrados, pérfidos.  Estancou os passos no meio do corredor durante segundos infinitos. Pensou na vida. Em tudo o que era e o que tinha, no conforto daquela cama e dos braços daquela mulher que sempre o esperava há anos. Visualizou seu sorriso de carinho. O cheiro, o olhar sereno , a pele macia e branca que ficava ao seu alcance e que ele tocava de vez em quando, com certo tédio. Os lábios rosados e suculentos, aguardando o beijo que nem sempre vinha. De repente parou de pensar e as pernas voltaram a andar bem devagar, esperando que os ruídos cessassem. E começou a sentir um torpor, como se o corpo se desmaterializasse e somente o espírito vagasse .Ou como se sua alma  estivesse evaporando  à medida que a porta do quarto se aproximava, e os ruídos só aumentavam em volume e intensidade.

Talvez fosse melhor bater, pensou, antes  de perceber que a porta  estava entreaberta. Apenas um leve empurrão e o tormento estaria acabado. Mas os gemidos agora ecoavam nas paredes. Um vento forte escancarou  a porta, não revelando nada além da escuridão. Assim seguiu no seu passo, ainda mais lento, aproximando-se cada vez mais daquele som aterrorizante. Como lhe faltou a coragem de acender as luzes, imaginou a foice, com o sangue e a morte do traidor estampada nos lençóis brancos de linho que ela tanto gosta. Seria incapaz de lhe fazer mal, pois reconhecia o quanto fora boa para ele até então, porém, estava decidido a montar a cena do crime para que ela fosse considerada culpada pela morte daquele desconhecido com quem ela o humilhava.

Tateou no escuro, sentindo os lençóis de linho branco e sobre eles, o corpo quente que se contorcia em movimentos voluptuosos. Agora só se ouviam as respirações  - exaustas dela e tensas dele. Reconheceu a pele macia e branca que tocava, às vezes, ao se deitar. Mas antes que pudesse fazer qualquer movimento brusco, pôde ouvi-la sorrindo  e  lhe estendendo  os braços que continuavam a esperá-lo. Repousou a cabeça sobre seus seios redondos e o peito arfante. Ele não pôde conter as lágrimas. Tinha acabado de adquirir uma certeza que todos os maridos gostariam de ter: sua mulher não era adúltera. Era, sim, independente.  A boca permaneceu calada, mas seu corpo, não. Mandou o sono bater em outra porta e passou a dar mais valor ao que tinha em casa.