domingo, 9 de outubro de 2011

Desconstruindo a relação (um poema-diálogo ou vice versa)

 
 
Eu te amo
Nossa, há quanto tempo...
É. Já tinha esquecido.
Pois é, percebi.
E você?
Eu o quê?
Nada, não.
Esfriou.
Tá chovendo lá fora.
Que bom.
Bom que o ar fica mais respirável.
Mas parece que vem tempestade.
Que nada, olha lá o arco-íris...
Cadê?
Longe. Tem que chegar bem perto pra ver.
Essa minha miopia tá me deixando cego.
É. Tem que ver.
Ver o quê?
O médico.
Ah, sim... o médico.
E você?
Eu o quê?
Tá bem?
Tô. E você?
Também. Quer dizer,o médico disse...
...Que bom.
Tô com sono.
Não tá esquecendo de nada?
Ah, sei. Tá aqui o dinheiro.
Tá.
Não vou poder ficar para jantar.
Como assim? Você prometeu.
Esqueci.
Pois é, percebi.
Negócios. Marcaram em cima da hora.
Tá. Já esqueci .
Esqueceu o que?
O que você não lembrou.
Minha memória anda péssima.
Tem que ver.
Nem o médico resolve.
Quem falou em médico?
Tenho que ir.
Vai.
Volto logo.
Volta, não.
Como?
Nada, não.
Fica com deus
Prefiro o diabo.
Te trago um sorvete?
Dieta!
Ah, sempre ela. Vai ficar doente assim.
Quem sabe assim você se cure.
Curar de que?
Da cegueira, do esquecimento.
Meu suéter. Quase esqueci.
Não, disso você não esquece. Vê se não esquece as malas.
Que malas? Não vou viajar.
Vai sim, amor. Você esqueceu.
Que bom que eu tenho você pra me lembrar.
É, se não sou eu...
Mas...pra onde é que eu vou mesmo ?
Pra um lugar onde você não vai ter nada para lembrar. Não é um paraíso?
É... parece bom...
E você?
Eu o quê?
Não vem comigo?
Se você não vai ter mais nada pra lembrar, não vai precisar mais de mim.
É, tem lógica.
Você tinha razão.
Sobre o quê?
O ar agora vai ficar bem mais respirável.

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