terça-feira, 20 de setembro de 2011

A vida lá fora não é um ringue

Todo mundo vidrado nesse negócio de UFC. Eu sempre ouvia falar, mas nunca tinha visto . Sabia apenas que era uma luta tipo vale-tudo, no esquema de sempre: 2 homens se engalfinhando até que vença o mais forte. Um dia, zapeando a TV, parei nela. Lutavam Anderson Silva e um japonês franzino. Era praticamente luta ganha. E claro que o grandalhão da voz fina ganhou (voz que só fui ouvir no dia seguinte, no Faustão, onde a “estrela" do UFC foi julgar  - vejam  só! -  o quadro Dança dos Famosos).
Tudo bem. Não sou fã de esportes de luta. Sempre pensei em como alguém, por mais atleta que seja, pode gostar de apanhar ou bater. E como isso pode ser considerado esporte? O fato de o UFC resgatar os antigos vale-tudo e de ver toda essa vibração, a comoção popular  em torno de alguém apanhando, sendo derrubado, com sangue escorrendo do nariz e do supercílio  me dá um bocado de aflição e até medo. Pode ser  por ignorância minha, afinal, trata-se de uma competição esportiva cujo objetivo não é incitar a violência, dirão os seguidores fanáticos.  Mas é impossível não pensar nessa questão: o quanto esse vale-tudo influencia ou pode influenciar nas manifestações violentas que vemos aos montes fora dos ringues? A atração por esse esporte seria uma demonstração de que as pessoas estão cada vez  mais íntimas da violência?
O japonês magrelo já estava caído no chão, com a cara completamente ensanguentada e o  Anderson Silva só parou de dar porrada quando o juiz apitou. E se o cara tivesse desmaiado? Como é que o juiz sabe a hora exata de parar? E se o adversário, já dominado e moribundo, não tem condições de sinalizar? Bem, não sou uma expert no assunto. E não tenho imparcialidade alguma ao falar dele porque sou muito sensível a tudo que envolve agressividade e sangue (não poderia ser médica de jeito nenhum!) Mas merece uma reflexão, não só a respeito do UFC, mas sobre outros esportes que fazem uso de violência e até maus-tratos, como é o caso do rodeio. No UFC, os lutadores ainda podem se defender, enquanto que no rodeio, os pobrezinhos dos bois são tão bravos quanto indefesos. Se pudessem escolher entre participar ou não, acredito que fariam a segunda opção.
Parece que os humanos, esses sim,  cada vez mais celebram a violência. Estamos vivendo numa grande arena, e salve-se quem puder. Isso me lembra de uma das canções mais perfeitas que já ouvi na vida, que, não por acaso, chama-se Perfeição, e é do grande Renato Russo.  A letra é bem objetiva: Vamos celebrar a estupidez humana/ a estupidez de todas as nações/ o meu país e sua corja de assassinos/ covardes/estupradores e ladrões... e por aí ele segue, dizendo um monte de outras verdades que não eram ditas, com a veia irônica que sempre foi sua. Renato ficou famoso por isso. Dá para perceber que, infelizmente, a sociedade não mudou muito desde a época em que a música foi lançada (18 anos atrás!).  Enfim, é só uma opinião. 



Perfeição :
Música  de Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá
Letra: Renato Russo
Álbum: O descobrimento do Brasil (1993).

 



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